A VINDA DA FAMÍLIA REAL E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

General de Brigada Veterano Luiz Eduardo Rocha Paiva

 

 RESUMO

A Introdução sintetiza, em um lampejo, a situação do Brasil no início do século XIX, quando a Família Real portuguesa se transferiu para a colônia, propiciando a aceleração da marcha de nossa independência. Em seguida, é apresentado o cenário internacional nos aspectos políticos, econômicos, militares e socioculturais, que provocaram essa transferência e sua influência na sociedade brasileira e no processo de independência.

O cenário nacional, então vigente, é abordado nos mesmos aspectos, para o leitor visualizar o ambiente interno quando as medidas estratégicas e administrativas tomadas por dom João, Regente do Reino de Portugal, foram implementadas, contribuindo para a independência do Brasil. Essas ações de governo são apresentadas e, posteriormente, comentados os eventos que aceleraram a concretização de nossa emancipação. Na conclusão, são listados eventos que resumem o processo e apresentadas consequências relevantes da independência do Brasil. Finalmente, é ressaltada a importância do momento histórico do Bicentenário da Independência e que ele deve ser aproveitado para fortalecer o patriotismo, o civismo e a coesão nacional.

Palavras Chave: Família Real. Processo de Independência. Cenários. Administração da Colônia. Cortes.

ABSTRACT

The Introduction summarizes, in a flash, the situation of Brazil in the early nineteenth century, when the Portuguese Royal Family moved to the colony, providing the acceleration of the march of our independence. Next, the international scenario is presented in the political, conomic, military and sociocultural aspects, which provoked this transference and its influence on brazilian society and the process of independence.


The national scenario, then current, is addressed in the same aspects, so that the reader can visualize the internal environment when the strategic and administrative measures taken by Don João, Regent of the Kingdom of Portugal, were implemented, contributing to Brazil’s independence. These government actions are presented and, later, commented on the events that accelerated the realization of our emancipation. In conclusion, events are listed that summarize the process and presented relevant consequences of Brazil’s independence. Finally, the importance of this historic moment – the Bicentennial of Independence – is emphasized and that it must be used to
strengthen patriotism, civility and national cohesion.

Keywords: Royal Family. Independence Process. Scenarios. Administration of the Colony. Courts.

1. INTRODUÇÃO

No final do século XVIII e no limiar século XIX, o Brasil completava 300 anos como colônia de Portugal. Nesse momento, já havia uma população nativa com fortes raízes fincadas em terras tupiniquins e anseios e interesses específicos que, muitas vezes, entravam em choque com os da metrópole lusitana.


A Nação Brasileira vinha se forjando com o passar dos tempos, fortalecendo a coesão com sucessivas vitórias sobre os desafios impostos pela imensidão do território, as dificuldades de ocupá-lo, desenvolvê-lo, mantê-lo unido e as seguidas invasões de potências europeias. Em memoráveis epopeias, foram evidenciados o valor da gente da Terra de Santa Cruz, pouco a pouco se transformando no povo brasileiro.


No final do século XVIII, a colônia já vivenciara algumas manifestações do sentimento nativista. Ou seja, conflitos entre os “filhos da terra” (nativos) e os chamados “reinóis” (imigrantes portugueses), entre os quais estão: a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1708-1709), a Guerra dos Mascates (1710), a Conjuração Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798), entre outras.


Porém, foi no início do século XIX que o cenário geopolítico europeu se agravou, conturbado pelas Guerras Napoleônicas, que alcançaram a Península Ibérica, resultando na transferência da Família Real para o Brasil. Eis o fato portador de futuro que fortaleceu o processo de independência do Brasil, acelerando o desfecho ocorrido 14 anos depois, em 7 de setembro de 1822.


O propósito do artigo é apresentar as consequências da transferência da Família Real de Portugal para o Brasil, em 1808, especialmente, sua contribuição para a consecução do processo de nossa independência. O artigo tem como base os cenários políticos, nacional e internacional, o econômico e o sociocultural da colônia início do século XIX.

2. O CENÁRIO INTERNACIONAL

O foco será o ambiente geopolítico na Europa Ocidental e no Continente Americano no início do século XIX, uma vez que eram as regiões com maior influência política na então colônia lusitana.

A Revolução Francesa, em 1789, começava a dar frutos, um deles o enfraquecimento do absolutismo monárquico, em prol do constitucionalismo limitador do poder real. Além desse, houve a ascensão política das massas, calcada nos ideais de liberdade, igualdade
e fraternidade, consequentes da disseminação do Iluminismo
2.

A ascensão de Napoleão na França marcou o início de uma era de conflitos pela hegemonia política na Europa, que durou até 1815. Após lograr a superioridade políticomilitar na Europa Continental, em meados da primeira década do século XIX, Napoleão buscou submeter a Inglaterra por meio do chamado Bloqueio Continental, visando arruinar sua economia. Para isso, pressionou os vizinhos continentais, entre eles, Espanha e Portugal, mas este último, tradicional aliado da Inglaterra e por ela também pressionado, recusou-se a aderir aos propósitos do Imperador francês.

A Inglaterra, além de amparada em sua superior Marinha de Guerra, já dera início e assumira a vanguarda na promoção da Revolução Industrial e de políticas liberais no campo econômico. Dessa forma, tinha poder nacional capaz de resistir à tentativa de bloqueio e, também, de apoiar Portugal na resistência à França, protegendo a transferência da Família Real lusitana para o Brasil. Foi uma exitosa estratégia, que impediu a submissão da Coroa Portuguesa e, também, a deposição da dinastia de Bragança por Napoleão. Ela permaneceu exercendo a soberania e a independência no Brasil, ainda que Portugal tenha sido ocupado pelos franceses durante algum tempo.

Com a vinda da família Real para o Brasil, Portugal tinha a oportunidade de continuar seu comércio com os países em que mantinha aliança. Essa manobra era para conservar seu reinado e seu capital (https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/a-vinda-da-familia-real-para-o-brasil).

Cumpre ressaltar que à época, França e Inglaterra já eram países capitalistas industriais, ao passo que Portugal, ainda era um país mercantilista3 e com forte dependência financeira e política da Inglaterra.

Na América Latina, os processos de independência das colônias hispânicas vinham ganhando força, na década de 1810, e eram influenciados também pela Revolução Americana, que resultara na independência dos EUA e na implantação da forma republicana e do regime democrático de governo. Os ideais disseminados pela Revolução Francesa e pelo Iluminismo também estavam presentes, nesses movimentos, em parte das lideranças nativas com maior nível de estudo, cultura e poder econômico, embora essa fosse uma parcela diminuta das sociedades coloniais. Alem disso, a ocupação da Espanha pela França, as renúncias de Fernando VII e Carlos IV e a imposição
de José Bonaparte, irmão de Napoleão, como Rei, enfraqueceram o poder da Espanha, sendo fatores decisivos na independência de suas colônias.

Em 1815, com a derrota e o exílio de Napoleão, a Europa se reorganizou sob a égide das decisões do Congresso de Viena que, entre outros objetivos almejados, restaurou o equilíbrio entre as potências do Continente e impôs um freio que retardou, mas não sepultou a disseminação dos Princípios da Revolução Francesa e do Iluminismo.

Como se verá adiante, esse cenário teve reflexos profundos no Brasil do início do século XIX, particularmente, nos aspectos políticos, econômicos e socioculturais, embora nesses últimos em prazo mais dilatado.

3. O CENÁRIO NA COLÔNIA BRASILEIRA

Será feita uma abordagem do cenário da colônia brasileira nos campos político, econômico e sociocultural, no início do século XIX, assim resumidos por Adriana Magalhães (Câmara dos Deputados): 

Em 1808, o Brasil já existia como colônia de Portugal há 300 anos. Mas Portugal adotou uma política de manter o país no isolamento e na ignorância, para preservar o Brasil da cobiça estrangeira. Por isso, o Brasil era um amontoado de regiões sem comércio nem comunicação
entre si. O único ponto em comum era a língua portuguesa e a obediência à Corte. Não havia indústrias e todo o comércio se fazia com e através de Portugal. Educação e saúde eram praticamente inexistentes: em São Paulo, em 1818, apenas 2,5% dos homens livres em idade escolar eram alfabetizados. Livros e jornais eram impedidos de circular livremente. Era praticamente impossível encontrar no Brasil daquela época um médico que tivesse feito curso regular. A vinda da corte portuguesa no Brasil mudou tudo
.

3.1 Campo Político

Quando a Família Real chegou ao Brasil, o governo da colônia era exercido por um Governador-Geral, titulado como Vice-Rei a partir de 1720. O território continuava dividido em Capitânias Hereditárias, porém, sob o poder centralizador do GovernadorGeral. O Governo-Geral fora criado em 1548 com o objetivo de promover a centralização administrativa da colônia e torná-la mais lucrativa, pois os resultados do sistema de Capitânias Hereditárias ficaram muito aquém dos esperados. Os governadores-gerais centralizaram o poder e assumiram várias funções antes desempenhadas pelos donatários, sem que, no entanto, as Capitanias Hereditárias tenham sido extintas, o que só aconteceu em 1821, quando passaram a constituir Províncias.

As relações entre os donatários e os governadores, muitas vezes, eram bastante conflituosas no que tange ao exercício do poder. Era a estrutura administrativa do Brasil Colônia até a chegada da Família Real, quando, então, o poder político foi centralizado no Príncipe Regente, Dom João.

O cenário internacional, no tocante à importação dos ideais liberais das Revoluções Americana e Francesa e do Iluminismo, com o consequente declínio do absolutismo, em prol do constitucionalismo monárquico, influenciou uma parte da liderança colonial. Essa liderança tinha predominância conservadora, inicialmente, mas uma parcela constituída por liberais moderados e exaltados, paulatinamente, passou a se rivalizar com aquela maioria. Essas três correntes de pensamento ditariam os rumos políticos do Brasil ao longo do século XIX. A classe média incipiente e, politicamente, não organizada, não teve grande peso político durante o Império.

A principal consequência da vinda da Família Real para o Brasil, com as transformações que implantou e conduziu no campo político,  interno e externo, no econômico e no sociocultural, foi a aceleração do nosso processo de independência. A vinda da Família Real e sua longa permanência no Brasil fortaleceram a coesão da sociedade colonial e foram fatores fundamentais para que os processos de proclamação e consolidação da independência levassem à manutenção da unidade nacional. 

  3.2 Campo Econômico

Para entender o cenário da colônia no campo econômico, no início do século XIX, abordaremos os ciclos econômicos6 vividos no Brasil desde o descobrimento.

Os principais ciclos até o processo de independência foram os do pau-brasil, da canade-açúcar e do ouro, sendo o último o que deu resultados mais significativos no período colonial. Em seguida, cronologicamente, vieram os ciclos do algodão, do café e da borracha.

As atividades características dos ciclos econômicos se concentravam na faixa litorânea do território, o que fez concentrar nessa região a grande maioria da população da colônia, exceto o ciclo da exploração mineral, que provocou uma certa interiorização no Sudeste (Minas Gerais) e para o Centro-Oeste (Goiás e Mato Grosso).

O fato de uma determinada atividade ser predominante, no que diz respeito à exploração e ao valor econômico, não significa que os produtos de ciclos anteriores e outras atividades menos relevantes deixassem de ser explorados ou não existissem. A pecuária, por exemplo, embora inicialmente fosse afeta ao uso do gado bovino para tração animal na lavoura, evoluiu para a criação de subsistência e comercialização, a partir do século XVII. Ela ensejou, também, a expansão da população para o interior, de modo a não prejudicar as lavouras na faixa litorânea. Na região Sul, a partir do século XVIII, tornou-se uma das atividades econômicas mais importantes e como que subiu o território, expandindo-se para o restante do país.

Quando da transferência da Família Real para o Brasil, vivíamos o ciclo do ouro, com a mineração sendo a atividade de maior relevância econômica, embora a cana-de-açúcar ainda continuasse uma atividade muito lucrativa, enquanto a pecuária se expandia e a lavoura do café começava a sua ascensão. Por outro lado, o atraso da entrada de Portugal na Revolução Industrial o levou a um forte endividamento com a Inglaterra, cujo pagamento era realizado por meio do ouro minerado no Brasil.

3.3 Campo Sociocultural

Consultar o ANEXO ao final do artigo.

4. A ADMINISTRAÇÃO DE DOM JOÃO – PRÍNCIPE REGENTE – NO BRASIL

A vinda da Família Real e a consequente administração da colônia por Dom João foram marcadas por profundas transformações e ou  mudanças importantes, que se impuseram porque a Corte Portuguesa estava no Brasil, nova sede, de fato e de direito, do poder político do Reino Lusitano. Entre elas, cumpre destacar:

a. A abertura dos portos brasileiros às nações amigas, que pôs um fim ao monopólio comercial de Portugal, permitindo aos brasileiros negociar com outros países, embora não significasse ampla liberdade econômica, pois ficamos muito dependentes da Inglaterra, então a  maior potência comercial do mundo.

A perda do monopólio comercial de Portugal com o Brasil permitiu o aumento de nossas relações com outros países europeus, trazendo para a colônia os ideais de liberdade, que se fortaleciam naquele Continente, levando à paulatina perda do poder de Portugal na colônia e à adesão da elite agrária ao processo de Independência.

b. A autorização para o estabelecimento de manufaturas (indústrias), inclusive de
munições e de armamentos, que o Brasil passou a exportar para Portugal.

c. Os avanços promovidos na cultura e nas ciências, que motivaram a vinda de intelectuais e artistas estrangeiros. Entre esses avanços, destacam-se a criação da Academia de Belas Artes, de universidades, bibliotecas e teatros, do Observatório Astronômico e da Imprensa Régia.

d. As melhorias urbanas e a dos serviços implantadas no Rio de Janeiro, de modo a sediar a corte e os órgãos de governo. Destacam-se a criação do Jardim Botânico, a fundação da Biblioteca Nacional e o estabelecimento do Banco do Brasil, este último com reflexos em toda a colônia.

e. A projeção de poder de Portugal na América do Sul, invadindo e anexando a Província Cisplatina, antiga área de disputa entre os reinos rivais da Península Ibérica, e também a Guiana Francesa, esta como retaliação à invasão do território de Portugal pela França.

Do ponto de vista militar, essas ações pretendiam garantir que os exércitos franceses não dominassem regiões do continente americano que pudessem fortalecer as tropas de Napoleão Bonaparte. O governo português tomou essas medidas como parte de dois projetos. Um deles voltado contra a França de Napoleão e o outro, já secular, contra a Espanha, envolvendo a disputa pela Foz do Rio da Prata. Entretanto, o envolvimento nesses conflitos não teve adesão popular e causou a insatisfação dos colonos que bancavam os custos com seus impostos.

f. A criação das Academias Militares do Exército e da Marinha.

g. A elevação do Brasil ao status de Reino Unido de Portugal e Algarves, em 1815, permitiu obter o reconhecimento internacional da dinastia de Bragança e o direito de participar do Congresso de Viena, que iria reorganizar a Europa após as Guerras Napoleônicas. Com isso, o Brasil deixava de ser colônia e passava a ter o mesmo status político de Portugal, podendo participar da política do Reino com deputados enviados às Cortes de Lisboa. Foi um passo importante para a emancipação política do território.

A medida fortalecia o interesse de Portugal de impedir movimentos revolucionários, inclusive com perfil republicano, conforme os  movimentos de independência nas colônias espanholas, na década de 1810, e a Revolução da Independência Americana de 1776.

h. No campo sociocultural, a valorização da educação e da literatura brasileiras no ensino público, abrindo vagas para professores; a  arrecadação de fundos para concluir as obras do teatro de Salvador; a criação das cadeiras de Cálculo Integral, Mecânica e Hidromecânica e de um curso de Matemática para os estudantes de Artilharia e Engenharia em Pernambuco; a isenção do pagamento de direitos de entrada em alfândegas brasileiras de matérias-primas manufaturadas em qualquer província; e a criação de um curso regular de língua inglesa na Academia Militar do Rio de Janeiro.

No entanto, a expansão da atividade econômica teve como consequência negativa o aumento do tráfico de escravos, cujo efetivo triplicou durante a permanência da Família Real no Brasil10.

Um evento importante ocorrido em 1817 foi a “Revolução Pernambucana ou ‘Revolução dos Padres’, movimento emancipacionista deflagrado em Pernambuco. Foi influenciada pelas ideias iluministas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu séquito recém-chegados ao Brasil. Pernambuco, então a mais lucrativa capitânia da colônia, tinha que enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas, roupas e festas da Corte, com prejuízo ao enfrentamento de problemas locais e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento no povo pernambucano. Foi o único movimento separatista do período de dominação portuguesa a ultrapassar a fase conspiratória e atingiu o processo de tomada do poder [-] Os  revolucionários, oriundos de várias partes da colônia, tinham como objetivo principal a conquista da independência do Brasil em relação a Portugal, com a implantação de uma república liberal. O movimento abalou a confiança na construção do império americano sonhado por Dom João VI, e por este motivo é considerado o precursor da independência conquistada em 1822. 

5. A ACELERAÇÃO DO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Os eventos que deram força e aceleraram o nosso processo de independência, cujas bases se assentaram nas medidas tomadas por Dom João durante a permanência da Família Real no Brasil, foram a Revolução Liberal do Porto (1820), em Portugal, e as medidas tomadas pelas  Cortes Portuguesas, constituídas a partir dessa Revolução. As Cortes foram convocadas para elaborar uma constituição para o Reino Lusitano e estabelecer as reformas decorrentes. Havia uma forte reação às concessões políticas e econômicas concedidas às colônias portuguesas, em especial ao Brasil.

Assim, entre as medidas tomadas e as mudanças decididas estavam a volta de Dom João VI a Portugal, restabelecendo Lisboa como a capital do Reino, a restauração do monopólio comercial lusitano no Brasil e outras medidas que sinalizavam, em conjunto, o nosso retorno à  condição de colônia. Portanto, os propósitos das Cortes Portuguesas e os da liderança política brasileira eram divergentes e azedaram as relações entre deputados portugueses e brasileiros, sendo estes últimos e os interesses do Brasil tratados com desdém nas Cortes.

O Rei voltou para a metrópole deixando, como governante, o herdeiro do trono – Dom Pedro de Alcântara – que tinha excelente trânsito  junto à elite agrária e às lideranças que apoiavam a independência do Brasil.

A partir de 1821, a motivação da população e da maioria das províncias brasileiras pela independência cresceu, principalmente, quando as Cortes reforçaram suas tropas na colônia, com novos efetivos vindos da metrópole, transferiram instituições do Rio de Janeiro para Lisboa e determinaram o retorno de dom Pedro de Alcântara a Portugal.

A reação se ampliou com a criação do Clube da Resistência, que elaborou um abaixoassinado com oito mil assinaturas para convencer o Príncipe Regente a desobedecer às Cortes e permanecer no Brasil. Dom Pedro recebeu o documento e, em 9 de janeiro de 1822, declarou que não cumpriria a determinação das Cortes e ficaria no Brasil. O
episódio ficou conhecido como o
Dia do Fico.

Numa rápida escalada do processo de independência, em maio de 1822, foi decidido que as determinações das Cortes Portuguesas teriam  que receber o aval (ou o “cumprase”) de Dom Pedro para serem válidas no Brasil. No mês de junho, foi convocada uma Assembleia Constituinte para elaborar uma constituição para o Brasil.

A declaração de independência teve seu estopim aceso a partir das ordens chegadas de Portugal, no final de agosto de 1822, reiterando a antiga determinação de retorno do Príncipe Regente a Lisboa. Dessa vez, elas vieram numa carta em tons ásperos, que também anunciava o fim de vários direitos e benefícios com que a administração de dom João VI contemplara o Brasil durante sua permanência em nosso território.

A Princesa Leopoldina, que sob a orientação e liderança de José Bonifácio, trabalhava por nossa emancipação, reagiu convocando uma sessão extraordinária, em 2 de setembro, onde ficou decidida a independência do Brasil. A ordens das Cortes e a proposta de independência decidida na citada sessão extraordinária foram levadas a Dom Pedro de Alcântara que, em 7 de setembro de 1822, quando em viagem à Província de São Paulo, decidiu proclamar a independência do Brasil.

Houve reações contra a independência, por meio de operações bélicas nas Províncias da Bahia, do Pará, do Maranhão e na Cisplatina entre  1822 e 1824. Em 12 de outubro de 1822, Dom Pedro foi aclamado Imperador do Brasil, sendo coroado em 1º de dezembro do mesmo ano.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como um resumo do processo da independência brasileira, destaque-se que:

– No Período Joanino, foram implantadas muitas medidas modernizadoras no Brasil.

– Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido, deixando de ser colônia.

– Em 1820, a Revolução Liberal do Porto impôs o retorno do Rei a Portugal, que deixou seu filho, Dom Pedro de Alcântara, como Príncipe Regente do Brasil.

– Em 1821, as Cortes portuguesas exigiram a revogação de medidas modernizadoras implantadas no Brasil e o retorno do Príncipe Regente para Portugal.

– No “Dia do Fico” (9 de janeiro de 1822), dom Pedro declarou que ficaria no Brasil, desobedecendo às Cortes.

– No “Cumpra-se” (maio de 1822), determinou-se que as ordens portuguesas só seriam cumpridas no Brasil com o aval de Dom Pedro.

– Foi convocada uma Assembleia Constituinte (junho de 1822) para elaborar uma constituição para o Brasil.

– O Grito da Independência ocorreu às margens do Rio Ipiranga, no dia 7 de setembro de 1822, como resultado da escalada do conflito entre a Metrópole e o Brasil.

– Houve combates após a declaração de independência na Bahia, no Pará, no Maranhão e na Cisplatina, alguns deles durando até 1824.

– Em 12 de outubro de 1822, o Príncipe Regente foi aclamado Imperador do Brasil e, em 1º de dezembro, era coroado como Dom Pedro I.

Entre as consequências do êxito do nosso processo de independência, podem ser mencionados: o surgimento do Brasil como nação independente; a construção da nacionalidade brasileira; o estabelecimento de uma monarquia nas Américas (a única além da haitiana e da efêmera mexicana); e o aprofundamento do endividamento do Brasil por meio de um pagamento de 2 milhões de libras esterlinas como indenização a Portugal.

Além disso, a manutenção da unidade nacional, graças à força do poder centralizador representado pela monarquia e pela forte liderança de Dom Pedro I e de outros patriotas, como José Bonifácio, que conduziram o processo.

Em 2022, o Brasil comemora os 200 anos de independência. É o momento de aprofundar o estudo da nossa História, de nossos heróis, de seus feitos e das lutas e conquistas do povo brasileiro. Da mesma forma, é tempo de fortalecer o civismo, a cultura, as tradições e a coesão nacionais, após décadas de exploração política do nosso passado, objetivando denegri-lo, com o propósito de promover ideologias radicais e apátridas. 

É tempo de recordar três dos dez Mandamentos Cívicos de Coelho Neto, que têm tudo a ver com esse momento histórico de nosso Brasil:
– Honra a Deus amando a Pátria sobre todas as coisas, por nô-la haver Ele dado por berço, com tudo o que nela existe de esplendor no céu e de beleza e fortuna na terra.

– Honra a Pátria no passado: sobre o túmulo dos heróis; glorifica-a no presente: com a virtude e o trabalho; impulsiona-a para o futuro: com a dedicação que é a força da fé.

– Ama a terra, em que nasceste e à qual reverterás na morte. O que por ela fizeres por ti mesmo farás, que és terra, e a tua memória viverá na gratidão dos que te sucederem.

Brasília, 09 de janeiro de 2022

ANEXO – A VINDA DA FAMÍLIA REAL E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
SOCIEDADE COLONIAL BRASILEIRA (EXTRATO)

https://www.infoescola.com/historia/sociedade-colonial-brasileira/
Por
Misleine Neris de Souza Silva (Licenciatura Plena em História e Pós-graduação em História Cultural)

[-] A população era formada por brancos (senhores de engenho), índios catequizados, negros africanos escravizados e mestiços. A sociedade colonial brasileira foi constituída em um modelo patriarcal, onde o homem não era somente o chefe de família, mas também o dono de tudo. A princípio toda fonte de subsistência da sociedade estava ligada à agricultura e ao latifúndio. [-] A maior parte da mão de obra era africana e o objetivo era comercializar com a Europa. 

[-] A sociedade foi se estabelecendo em povoados onde o convívio social se resumia à lavoura e atividades da Igreja. No início a casa do senhor de engenho era construída de palha ou sapê, o piso era de terra, havia poucas portas, janelas e mobílias. Eles costumavam dormir em redes, os utensílios de cozinha eram de cerâmica e havia poucos talheres.

A casa grande ficava muito próxima das senzalas e por medida de segurança contra os ataques indígenas e as revoltas de escravos, com o tempo, ficaram maiores e mais seguras para o senhor de engenho. Embora a proximidade ainda continuasse a mesma, normalmente os colonos ficavam à frente e os escravos ao fundo, por vezes em pequenos porões. O senhor de engenho demonstrava sua riqueza através da quantidade de escravos que tinha ou pelas suas vestes. Só depois da vinda da família real para o Brasil em 1808, passou a prevalecer a posse de objetos. A casa grande foi construída perto do engenho, serviu como escola, enfermaria e igreja, onde eram guardadas as joias e os ouros. Eles acreditavam que haveria menos possibilidade de roubar tesouros se estivesse ligada à santidade.


Havia pouco tempo de descanso e logo quando nascia o sol, os homens levavam os escravos para a lavoura e as mulheres designavam as tarefas das escravas, que além de fazerem tarefas domésticas e cozinhar, eram vistas como reprodutoras e cuidadoras das crianças. Não havia água encanada, o que ocasionava um mau cheiro do local. Ao final do dia, era servida uma refeição, os escravos no geral dormiam juntos e havia guardas nas portas onde eles dormiam para garantirem a segurança dos nobres e evitar fugas de escravos. Os que fossem capturados em fuga eram espancados na frente da porta da Casa Grande.

As festas que havia nesse período eram inteiramente ligadas aos santos católicos e aniversários de príncipes ou princesas de Portugal. A Páscoa, Semana Santa e o Natal eram datas de grande prestígio. Eram celebradas missas, procissões, comes e bebes e o mais esperado, o baile. Era um momento de muita integralidade entre toda sociedade colonial, vestir roupas novas e luxuosas trazidas da Europa e conversar com as pessoas.

No Natal os senhores de engenho mais ricos preparavam o baile na sua propriedade. Era uma chance de paquerar uns aos outros e  proporcionar maior convívio social entre os senhores e as famílias dos vizinhos. O mais interessante era que os escravos também eram liberados para fazer suas festas do modo que queriam. As danças e culto aos deuses africanos atraíam muitos brancos, resultando na interação social e cultural entre esses povos que resultou na formação da sociedade brasileira como um todo. Estudiosos afirmam que essa proximidade foi o que diferenciou a sociedade colonial brasileira das outras colônias, pois permitiu um maior convívio de pessoas e trocas culturais.

 

 

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